Diariamente, com o simples clicar de um botão, conseguimos encomendar produtos de qualquer parte do mundo com a relativa certeza de que, em pouco tempo, eles chegarão à nossa porta. Porém, este processo de globalização — baseado em séculos de avanços tecnológicos e de descobertas científicas, e cimentado nas últimas décadas pelo protecionismo norte-americano de normas internacionais de comércio e de rotas comerciais marítimas — está em rápido declínio. Não apenas pela obsessão ideológica do presidente norte-americano Donald John Trump, como também pelo desinvestimento neste processo de preservação das rotas comerciais internacionais e dos tratados internacionais de comércio.
Neste campo, é impossível ignorar também a erosão do apoio a medidas climáticas no seio dos
programas e objetivos políticos de vários países e blocos geopolíticos. Fomentado igualmente
pela ignorância instituída e pela ganância financeira de lobbies específicos, vemos atualmente
um cautelismo — na melhor das hipóteses — ou um negacionismo escancarado e efetivo na
implementação de políticas públicas ecológicas que beneficiariam o dia a dia de pessoas,
comunidades e empresas. Sobretudo se considerarmos os reais impactos económicos das
atividades humanas e o risco civilizacional que este modelo irracional de consumo e produção
representa para os sistemas ecológicos regionais e globais.
Um dos casos que demonstra esta retração infeliz e inconsequente vem da Comissão Europeia,
bem como do Parlamento Europeu e do Conselho Europeu, no que concerne aos objetivos dos
indicadores ambientais, sociais e de governação corporativa (relatórios ESG). Considerando a
pressão de núcleos empresariais — sobretudo estabelecidos em Bruxelas — que veem como
“mero fardo burocrático” estes indicadores, e todas as ações empresariais necessárias para
atingir um modelo mais harmonioso em termos ambientais, sociais e de responsabilidade
corporativa, existe agora uma proposta para diminuir estas obrigações.
É certo que a aplicação obrigatória destes relatórios e de medidas que melhoram a
performance das empresas europeias no âmbito ambiental, social e de responsabilidade
corporativa tem custos — mas estes custos já existem; apenas não estão a ser internalizados.
Curiosamente, é sempre argumento de alguns grupos empresariais que esta “burocracia” nos
torna menos competitivos; porém, se mantivermos o paradigma vigente noutros países, não
estaremos a diferenciar o nosso tecido produtivo, muito menos a condicionar os restantes
países e setores empresariais internacionais a mudar no nosso sentido. Creio que nos
tornaremos menos competitivos, pois, considerando a mão de obra, a externalização dos
custos ambientais e sociais, bem como o declínio da globalização, o recuo nestas métricas
torna-nos ainda menos diferenciadores a nível empresarial. Isto considerando que a União
Europeia é um dos blocos geopolíticos e económicos mais capacitados a nível mundial. Se não
utilizarmos esta diferenciação, perderemos tempo numa transição que é inevitável — e
também mercado — pois outras potências fá-lo-ão como estratégia diferenciadora de atração
de capital financeiro e, sobretudo, humano.