• Qª Vale do Espinhal, Penela, Portugal

Artigo Bio4est

  • BIO4EST
  • Artigos
  • Indicadores ambientais, sociais e de governação corporativa (ESG). Custo ou investimento?
1 Abril, 2025 Responsabilidade Corporativa

Indicadores ambientais, sociais e de governação corporativa (ESG). Custo ou investimento?

Diariamente, com o simples clicar de um botão, conseguimos encomendar produtos de qualquer parte do mundo com a relativa certeza de que, em pouco tempo, eles chegarão à nossa porta. Porém, este processo de globalização — baseado em séculos de avanços tecnológicos e de descobertas científicas, e cimentado nas últimas décadas pelo protecionismo norte-americano de normas internacionais de comércio e de rotas comerciais marítimas — está em rápido declínio. Não apenas pela obsessão ideológica do presidente norte-americano Donald John Trump, como também pelo desinvestimento neste processo de preservação das rotas comerciais internacionais e dos tratados internacionais de comércio.

Com a ideologia nacionalista umbiguista a emergir do colapso da confiança pública nas políticas dos partidos e políticos tradicionais, aliada ao incremento da desinformação nas redes sociais e nos novos canais de comunicação digitais, assistimos ao desmembramento de um consenso de décadas sobre como a maioria dos países se deve relacionar em termos civilizacionais e, sobretudo, comerciais.



Neste campo, é impossível ignorar também a erosão do apoio a medidas climáticas no seio dos programas e objetivos políticos de vários países e blocos geopolíticos. Fomentado igualmente pela ignorância instituída e pela ganância financeira de lobbies específicos, vemos atualmente um cautelismo — na melhor das hipóteses — ou um negacionismo escancarado e efetivo na implementação de políticas públicas ecológicas que beneficiariam o dia a dia de pessoas, comunidades e empresas. Sobretudo se considerarmos os reais impactos económicos das atividades humanas e o risco civilizacional que este modelo irracional de consumo e produção representa para os sistemas ecológicos regionais e globais.

Um dos casos que demonstra esta retração infeliz e inconsequente vem da Comissão Europeia, bem como do Parlamento Europeu e do Conselho Europeu, no que concerne aos objetivos dos indicadores ambientais, sociais e de governação corporativa (relatórios ESG). Considerando a pressão de núcleos empresariais — sobretudo estabelecidos em Bruxelas — que veem como “mero fardo burocrático” estes indicadores, e todas as ações empresariais necessárias para atingir um modelo mais harmonioso em termos ambientais, sociais e de responsabilidade corporativa, existe agora uma proposta para diminuir estas obrigações.

É certo que a aplicação obrigatória destes relatórios e de medidas que melhoram a performance das empresas europeias no âmbito ambiental, social e de responsabilidade corporativa tem custos — mas estes custos já existem; apenas não estão a ser internalizados. Curiosamente, é sempre argumento de alguns grupos empresariais que esta “burocracia” nos torna menos competitivos; porém, se mantivermos o paradigma vigente noutros países, não estaremos a diferenciar o nosso tecido produtivo, muito menos a condicionar os restantes países e setores empresariais internacionais a mudar no nosso sentido. Creio que nos tornaremos menos competitivos, pois, considerando a mão de obra, a externalização dos custos ambientais e sociais, bem como o declínio da globalização, o recuo nestas métricas torna-nos ainda menos diferenciadores a nível empresarial. Isto considerando que a União Europeia é um dos blocos geopolíticos e económicos mais capacitados a nível mundial. Se não utilizarmos esta diferenciação, perderemos tempo numa transição que é inevitável — e também mercado — pois outras potências fá-lo-ão como estratégia diferenciadora de atração de capital financeiro e, sobretudo, humano.

Sobre esta matéria, e considerando os desafios nacionais, há um artigo na Executive Digest, com o título “ESG: Conformidade ou transformação estratégica? O desafio real das empresas portuguesas”, do CEO da Wellow, César Santos, que aconselho a leitura.